quinta-feira, 29 de outubro de 2009

diverso

Raia esfuzidio o contentar de dentro do peito,
Cabe a fervura que brota e reflete teu jeito
De descerrar luminura num gesto afeito
A todo sentido contido no mundo de versos.

[j. guedes]

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

sobre a interculturalidade subjetiva


A presente dissertação é uma breve tentativa de desenvolver livremente sobre a interculturalidade subjetiva do autor que ora se empenha a discorrer, nas linhas em sequência, os fundamentos do tema em destaque. Inicialmente, convém abordar os elementos de extensão do tema proposto para, em seguida, traçar posicionamentos propriamente pessoais acerca das impressões que fundam o autor enquanto sujeito que partilha diferenças e signos comuns no plano cultural. Porém, cumpre ainda dizer nessa introdução que a dissertação a seguir foge à regra do método do discurso científico no sentido de faltar o rigor no tocante às referências das fontes bibliográficas, pelo fato de ser um texto elaborado livremente, valendo-se dos aspectos confluentes: o racional e o afetivo; e da reflexão baseada no senso particular do autor, embora impossível negar a intertextualidade das unidades conceptivas que compõem a dissertação.

O primeiro elemento de extensão a ser analisado concerne à subjetividade do autor, isto é à subjetividade do Eu, cuja noção ganha contorno ao se confrontar com o conceito de “o outro”, do diferente que, subsequentemente, nos remete ao problema da pluralidade de sujeitos. Há vários sujeitos porque há o outro, mesmo que esse outro tenha existência com a condição de um mundo possível, ou seja, de um mundo potencial existindo no mundo real, no mundo das sensações.

Nota-se que a simples possibilidade da diferença implica o reconhecimento daquilo que compõe a identidade do próprio Eu, de modo que a manifestação cultural consiste em uma via de expressão dessa identidade. A noção de sujeito, portanto, é resultado de uma inclinação codificadora da realidade, empregada pelos povos ocidentais para “batizar” as diferenças culturais existentes enquanto unidade de identificação de um povo.

O conceito de outro pode assumir um contorno coletivo, exprimindo a idéia generalizada de um povo, em contraste com a identidade cultural que corresponde à subjetividade, pois esta se manifesta mediante o aparato predominantemente idiossincrático, em razão da complexidade dos mecanismos de tensão e atração que ocorrem em razão do encontro entre diferentes culturas que afetam diretamente a pessoa portadora da própria subjetividade. O ser é invariavelmente cultural no sentido ontológico, mas, variável no sentido de como ele absorve e cria, com as próprias habilidades e limitações circunstanciais, as manifestações culturais em sua pluralidade no campo da experiência.

O sujeito, assim, é referido particularmente, em sua singularidade, dada a individualidade de perceber e refletir sobre o mundo, inclusive com potencialidade para questionar a cultura da qual faça parte ativamente.

Dos argumentos deslindados nas linhas acima, torna-se possível dessumir que a subjetividade dos indivíduos comunica-se com a moralidade. Mas, o padrão de moralidade sofre níveis de graduações a partir dos mesmos mecanismos de tensão e atração acima aludidos, os quais propiciam a anulação ou imposição de uma cultura pela outra ou a coadunação de uma cultura com outra.

A título de exemplo, na tentativa de ilustrar adequadamente a imposição de uma cultura pela outra, toma-se o histórico processo de expansão europeia, a partir do século XVI, o qual atingiu os povos extra-europeus por meio de uma sistemática de dominação e desencadeou o empobrecimento cultural dos povos afetados por conta da tensão entre a irrogação da cultura uniformizante e as reais diferenças de visão de mundo em conflito, representando uma violenta expugnação à diversidade cultural. No entanto, para a surpresa dos agentes impositores da cultura adventícia, houve um recôndito movimento de resistência dirigido pelo lema da libertação dos povos atingidos pela violência. Essa resistência configurou, em última análise, a permanência da tensão entre a cultura dominante e dominada, só que, desta vez, em direção da pluralidade cultural.

Visando a uma melhor precisão terminológica, seria cabível definir o resultado da imposição de uma cultura pela outra como transculturação. Daí, relevante o mecanismo de tensão ou repulsão entre as culturas em choque. Diferentemente, a interculturalidade consiste no processo de aproximação, de intercâmbio e incorporação de culturas distintas à matriz. Em termos concretos, a interculturalidade, em que pese as filtrações durante o processo de absorção e as devidas adaptações, é praticada largamente no aspecto gastronômico. Ou seja, o alimento está muito mais para objeto de prazer do que para objeto de poder. Talvez, essa argumentação viabilize entender a virtude de maior ocorrência e facilidade de adesão ao setor gastronômico entre as diferentes culturas.

Atualmente, a cultura casou-se com a indústria, dando aos rituais um real significado mercadológico. A propósito, esse é o sentido da globalização cultural: produzir e vender mercadorias que representem artigos de cultura. Em suma, a interculturalidade acontece facilmente nas lojas. Porém, de maneira geral, há um oficioso impedimento ao outro sujeito que faça parte de uma cultura distinta entrar nos limites fronteiriços daquela que apoderou de seus artigos de cultura. Ou seja, a interculturalidade tem mais fluidez com os artigos de cultura do que com os indivíduos, de modo a concluir que o chamado fenômeno da globalização é estritamente de caráter econômico, alijando o sentido de humanismo entre os povos.

No campo de minha subjetividade, a interculturalidade se processa calcada nas escolhas e nos interesses que atendam aos valores básicos de minha conduta, sem impor ao outro o que considero melhor, tampouco sujeitando-me a uma alienação cultural, mas, filtrando os traços culturais consentâneos aos princípios axiomáticos que me integram como sujeito pertencente a um povo.

Ao longo desse processo, insta sempre observar o princípio da ética e do respeito aos sujeitos que praticam e vivem culturas distintas, mas, que nem são piores nem melhores pelo fato de serem desiguais. Mas, a visão de mundo, seja pelo cientificismo, seja pela fé não significa em uma verdade absoluta. Enfim, estamos condicionados às nossas convicções.

Inevitavelmente, repetimos e criamos elementos de cultura para dar sentido à existência, pois, o ser humano, ao se questionar, esvazia-se das referências primárias e sente necessidade de sofisticar suas referências por tecnologias que perpassam pelo lúdico, arte, religião, política, mitologias, etc. e, pelo sortilégio da coerência resultante da criação circunstancial que explica o sentido de relação entre o eu e o mundo das sensações, transmite aos demais, pelos diversos meios semiológicos, o valor da diferença.

[j. guedes]

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

alteridade anárquica

Tanta gente em todo lugar
Mas tão pouca para se encontrar
Numa tarde há quem dê "tchau"
Em muitas outras qualquer sinal é caro
Meu caro irmão


Malícias colonizam pensamentos
Degradam confianças por motivos banais


Prossegue cada lobo solitário
Confinando amores sem suspiros finais


O rogo pela sorte se repete
Mas a competência parece vã
Quando o desforço aparece
E aliena a paz ao Leviatã.


[j. guedes]

domingo, 4 de outubro de 2009

desperdida

O oco do berro alumia
E abre uma boca na terra
O fosso da crença espera
O advento da trégua
A cada berro estourado
A cada sangue minado
De cada laço apertado
No espaço tumultuado
No curso da terra sem trégua
Que deixa um oco sem fim
A troco de meros caprichos
Que a chama do medo cunhou
Para suportar ilusões
Que nutrem a fúria da guerra
Como uma prova de amor.

 [j. guedes]

sábado, 19 de setembro de 2009

último segredo

Prendeu a respiração antes de encafuar o último segredo,
Reservado nos murmúrios mais acanhados de uma rara cumplicidade.
Naquele momento, apoderava-se-lhe uma sensibilidade vasqueira;
as têmporas palpitavam com mais força,
a lhe entregar um grave enjôo.
Ergueu-se a derradeira poeira.
Suspirou, desfazendo-se daquele ar viciado de incerteza
E emborcou-se numa pseudo-segurança,
Entregue à ordem do mais particular poder
Até que o Sol foi mais forte
E desvelou o meandro das possibilidades,
Tornando a adversidade uma leda impressão.
Tudo muito Claro. Claramente,
Como assim passava a proceder
Em seu mais íntimo realengo.


[j. guedes]

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

reveses

Freme a tempestade impetuosamente.
Desguelha, desfolha, arranca frutos,
mas nunca exuma a raiz.

Tudo que se sente depois
é a calmaria recuperada,
o farfalhar natural da folhagem,
um sol radiante,
manhãs com cores de saudades...


[j. guedes]

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

zen

Plurificar-se
é permitir-se ao mistério
que paira inesgotavelmente
nas experimentações...


(j. guedes)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"operação pandemia"

Síntese: Um ensejo ao mercado. O documentário, a seguir, mostra que o pânico à gripe suína é mais um embuste estadunidense, forjado para vender as inúmeras doses de Tamiflu que, originariamente, foram produzidas com uma pesada subvenção do governo dos EUA e destinadas ao Japão e China para tratamento da gripe aviária que acometia um contingente de vítimas. Contudo, aquelas populações sofreram sérios efeitos colaterais com o uso do famigerado medicamento, forçando os respectivos governos a suspender a circulação do remédio. Com essa medida, sobrou uma quantidade incalculável de doses de tamiflu. O que fazer com aquele estoque imenso? Inventaram a "pandemia" da gripe suína, aventando de má-fé que o único remédio adequado para o tratamento dessa nova gripe seria o tal do tamiflu. Sem deixar de esquecer que, ao lado da gripe suína, outras doenças matam muito mais pessoas por ano, enquanto que a nova gripe, embora seja séria, não se alastra como a mídia sensacionalista e propagantista insiste em afirmar. Mas, acerca da gripe porcina, o que importa é tomar as medidas profiláticas, cuidando da própria higiene, ou seja, lavando as mãos com frequência e evitando meios de compartilhamento de salivas.

sábado, 30 de maio de 2009

procurando entender


Se começo ou termino, me importa o processo
Tudo que interessa aliena ou instrui

Meu ponto de vista traceja impressões
Marcadas com lastros de opiniões

Em perspectivas concebo ideais
Contrapostos aos vícios sensoriais

Miragens ocupam a minha visão
Cruzada deserta de convicção

Pedaço do mundo voando no espaço
Resposta calada em sono profundo

Prato de um glutão em cima da mesa
Como sobremesa de boa ingestão.

[j. guedes]

segunda-feira, 18 de maio de 2009

ponto de partida

Veremos veredas
de ramos sem verdes;
com soma de vermes
veredas
seremos.

Saberes com beiras
de sórdidas dores
embalam moinhos
que rodam horrores;
no avesso do verso
há terso em apreço:
Veredas sem verves.

Quem serve traz a medida;
da soma, que valha a ferida
e rir nessa vida
é força de sobra
para o recomeço.

Vem ser
vendo
o sol nascer!

(j. guedes)

sábado, 21 de março de 2009

sábado, 7 de fevereiro de 2009

influxo

Cavou dentro de si a densa camada de convenções sutilmente impingidas pelos valores culturais, os quais já estavam montados e determinados pelas gerações antecedentes. Foi, de súbito mesmo, que lhe assaltou tal necessidade de arremeter-se pela vereda introspectiva, em busca do significado mais puro da verdade. Como critério axial, elegeu o parâmetro racional niilista e permitiu-se ao mergulho meditativo. Sentiu que, à medida que se aprofundava no abismo aberto pela força de seu ceticismo, visitava noções que agora ganhavam a tônica de preconceitos convulsivos, desfalecidos; enfim, de adereços inúteis. Percebia, com esse exercício, a vulnerabilidade dos signos morais diante de uma estranha e fluente maneira de poder entender tudo. O conjunto de crenças e fórmulas convencionadas adquiria gradualmente um jaez de nulidade, cedendo um âmbito lacunoso com potencial para sorver nódulos conceptivos. Aquela visão resultante da desconstrução redimensionava as raias de sua própria fé. A decorrência subseqüente ao empenho soliturno lhe foi servida de uma conclusão audaciosa: a verdade é imaginária.
[j. guedes]

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009