sexta-feira, 29 de junho de 2007

Resenhas maquiavelianas

Manual do Governante
A obra "O Príncipe" equivale-se a um "manual prático" que prescreve a maneira de como governar, angariar e conservar o poder nas mãos do governante. Com seu acurado poder de observação derredor dos fatos históricos, Maquiavel expõe as condições políticas de diversas regiões e deduz que tal governante deve agir de tal forma que o poder conquistado não se desfaleça, exortando, portanto, ações obstantes aos valores morais para atingir o fim almejado pelo governante ("os fins justificam os meios", como o próprio Maquiavel postula). Pode-se, então, inferir que, a partir desse ponto de vista, a obra O Príncipe é uma reunião de preleções destinada PRIMORDIALMENTE ao príncipe, mas de CONSEQÜÊNCIAS que se adaptam ao modelo político conhecido como República. Ou não?

Revolução no Pensamento Político
Sei que essa obra clássica revolucionou o pensamento político, o qual se encontrava, até então, na base do senso comum e que Maquiavel elevou ao platô onde ficam as ciências. Talvez, pela existência de modelos de repúblicas e principados (onde conservam a representação do príncipe) existentes ao longo da linha histórica - a qual serviu de base analítica para Maquiavel -, ele mesmo tentou conceber com muita provisão de competência um pensamento que serviu de generalidade para ambos os regimes que Maquiavel, até então pôde debruçar sua investigação e indução.

Totalizar o Poder dos Principados em um só Poder
A aspiração em transformar a Itália – atrasada em relação a outros Estados europeus daquela época, séc. XVI) – em República foi o impulso primário que levou Maquiavel a produzir seus escritos. O modelo de Estado moderno absoluto, caracterizado pelo poder centralizado nas mãos do rei, era exemplar para resolver a Itália e acabar com a situação de um aglomerado de principados que pulverizava o poder e favorecia incursão e dominação francas por aquelas terras.

(João P. Guedes)

domingo, 17 de junho de 2007

diamantes líqüidos


Diamantes líqüidos
roga a boca do catingueiro
com sua voz minguante
que corta a aridez do ar.

Dentro da ordem de seus ossos
trepida um coração
encharcado de fé
que faz derramar de seus olhos
a certeza imarcescível
de que sua prece
expedir-se-á
para os ouvidos do céu
onde guarda
na escuridão
das formas suspensas
o tesouro
de diamantes líqüidos.

(João Guedes)




segunda-feira, 11 de junho de 2007

versalena

A saudade é um refrão
que a vida canta
pelo bem
abduzido
a contratempo,
ciciando dor pela memória
da última silhueta
que reverbera na janela.

(João P. Guedes).

sábado, 9 de junho de 2007

magarefe madrugagem

Sempre que podia
Assim vovó dizia
À netama
De jovens mancebos:

"Quem dorme cedo
Cria carne e sebo;
Quem dorme tarde,
Nem sebo nem carne".

E nas horas mortas
Eram minhas carnes abatidas
No açougue da boemia
De noites desdormidas.


(joão guedes)

sexta-feira, 8 de junho de 2007

a perfeição

A perfeição é transitória
Existiu desde outrora
Fugidia e delusória.

Num momento está ali,
Em um outro vai embora.

Sua glória não demora
A auto-crítica lhe implora.

Na virtuose se embola
E se desembaraça
Como truque de cartola.

De chofre, se esvanece
Acolá reaparece
Sempre cheia de graça
Por onde ela passa.

[joão guedes]

terça-feira, 5 de junho de 2007

a eito

Meu passado é um mapa
Riscado de agruras e regozijos.

Meu futuro é um labirinto
Povoado de medos e esperanças.

Um mapa para o labirinto
Nem sempre correspondentes
Incompatíveis
Incomplementares...

No passado eu me encontro
No futuro me espero.

Nas previsões e
Nas surpresas
Vou deixando minhas pegadas
Borradas
Coloridas
Encantadas
Doloridas.

[João Guedes]

domingo, 3 de junho de 2007

encosto


Encosto

Meu bem tão longe fica
De meus braços baldios
No desejo ela encosta
E fica...

Nos ateios dos sonhos
Se propaga em graça.

Na distância nefasta
Ela não me basta.

Nos andares das horas
tanto demora a pirraça,
Mas, sinto que o tempo passa
Em gotas descontadas,
Juntando o meu abraço
Ao corpo dela em vida
Ainda que permaneça
Dentro de mim possuída.

(Joao P. Guedes)

pílulas abstratas

PÍLULAS ABSTRATAS

Andei, persisti,
Encontrei e entrei.
Suspeitei e entendi.
Provei...

...Saí.
Perdi, voltei, abusei
E me afoguei.
Arrependi-me e
Lágrimas decantei.
Emudeci e me apaguei.
Ancorei.
Dormi, sonhei
E pesadelos temi.
Acordei e imaginei.
Hesitei, mas corrigi.
Levantei e sorri.

Como sempre, estavam ali,
Prontas para serem engolidas,
As pílulas abstratas,
Travestidas
De dor,
De vício,
De amor,
De nada disso.


[joão guedes]

sábado, 2 de junho de 2007

folclore

FOLCLORE


Madrugada chegou.

Lua cheia alumbrou
O vazio que ficou
Nas ruas do interior.

Cruviana soprou
E o casal se apertou

Mas o frio devastou
A nudez do vadio
Entrincheirado ao canto,
Nos monturos do lixo.

O guarda se assustou
Com o vulto sombrio;

O cachorro uivou
Quando o vulto passou;

A beata rezou
depois do arrepio.

Era o lobisomem
Que a cidade não o viu.

[João Guedes].