É certo que me repito
É certo que me refuto
E que, decidido, me hesito
No entra-e-sai de minuto.
É certo que, irresoluto,
Entre o velho e o novo rito,
Atiro à cesta o absoluto
Como um inútil papelito.
É tão certo que me aperto
Numa tenaz de mosquito,
Como não tantas vezes certo
Eu ocutar de vez o meu grito.
Certo, certo, certo......
Que mais sinto o que reflito?
As fábulas do deserto
Do raciocínio infinito.
É tudo certo e prescrito
Em nebuloso estatuto
Ao homem, chamar-lhe mito,
Não passa de anacoluto.
(João Guedes)
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