terça-feira, 24 de janeiro de 2012

soberana

Saiba o que tenho a você
Desde então é assim
Quando lhe encontrei bem mais perto de mim
O amor me acertou e, de repente,
Eu lhe servi como uma parte que, a toda vida,
Se faltar, já sabemos, vamos sentir

Meu bem, lhe quero tanto
Flor com final de bem-me-quer
Eu lhe dou, plantadinha no jarro,
Com perfume de amor
E com espinhos que podem ferir, cuidado
A beleza guarda truques no esparro de muita dor

Cure minha culpa, aceitando esse gesto de carinho
Vem, me abrace forte de novo, me enxugue as lágrimas por você
Também sou de carne e osso, olhe e perceba,
Seu espelho tem a minha imagem,
Pois fiz de conta que o erro foi todo meu.

[j. guedes]

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Prossigo a eito nas vicissitudes,
desdobrando sensações
e limando absurdos
com o esmeril da complacência
enquanto durar
o exílio da indignação.

[j. guedes]

sábado, 8 de outubro de 2011

habito-me

Na direção contrária ou favorável sei que vou andar
Por onde vou, faço de mim o meu verdadeiro lugar

A imensidão de cada passo se revela bem depois
Sem afastar o lado bom que se apontou no coração

E na bagagem um volume bruto de afirmações
Mesmo sabendo a recaída ser possível de chegar
Mais cedo ou tarde, ruindo ilusões, virando a mesa, e a recobrar
Coragem para não ter medo de errar

E o que sobrar do turbilhão voraz que arrasta o que é fugaz
Sou eu de novo, consolidado com o desejo de passar
Descalço e nu, realizado e feito como comecei
Certo de que em meu umbigo não habita nenhum um rei

Na direção por onde vou, sou eu de novo
Levando aceso o meu coração
Consolidando a coragem de passar do turbilhão
E habitar o meu lugar na imensidão.

[j. guedes]

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Entre o bem e o mal pulsa a humanidade.
Ninguém extrapola esses limites,
nem mesmo a presunção científica
da neutralidade axiológica.

[j. guedes]

pira-se na vida

Acordei no meu aniversário
Que ressaca, gastei o meu salário
Numa festa que tinha gente boa
E tinha otários!

pira-se na vida...

Acordei e fui pro meu trabalho
No caminho, o trânsito parado
Meu horário corre disparado

Ah ah ah ah ah
Que ressaaaaaaaca!

Tantas metas me deixam sufocado
E sem retorno ao surto inflacionário
Que revira meu bolso
Nas mãos dos salafrários

Se um dia houver revanche
Quem será o culpado?

Publicidades de multinacionais
Espalhadas por todos os lugares
Hesitei-me e comprei por mero impulso
O que nem precisava:
Mais uma cilada!

Voltei pra casa no "busu" lotado
E graúdo de desejos macabros
Pensando em tocar fogo em tudo quanto é lado!

[wladimir cazé, patrick brock, j.guedes]

quinta-feira, 5 de maio de 2011

o que você quer dizer com isso?

- Pois, Ele decidiu se casar.
- Ele é maluco!
- Por que diz isso? Você também não é casado?
- E eu disse que não sou?
- O quê? Casado?
- Não; maluco.
- Espere um pouco. Preciso entender o teor espirituoso de sua colocação. Bem, então você é casado e não é maluco, mas Ele pode ser julgado maluco por decidir se casar.
- E eu disse que não sou? Foi exatamente isso que lhe perguntei antes; não lhe disse que eu era maluco por ter casado.
- Mas a entonação que você empregou fez insinuar sobre o seu casamento.
- Engano seu. Aliás, era você que falava de casamento. Eu falava de maluquice.
- Sim, maluquice de quem casa.
- A conjugação de casamento com maluquice foi por sua conta. Você falava do casamento, enquanto eu falava Dele.
- Já me predisponho a desistir de entender tudo isso. Por favor, ligue a TV.
- Olha, que agradável! Bem no horário do programa que gosto!
- Prefiro outro canal, onde passam mentiras mais interessantes que essa.
- Trocar uma mentira por outra em nada muda. Aliás, mentira tem um efeito só. Acho desastroso demais dar importância a uma mentira que não seja de si próprio.
- Então, por que tanta euforia para dizer que gosta desse programa?
- Por causa dos intervalos. Tenho o perfil concreto de público-alvo das publicidades.
- E o mercado anda muito preocupado com verdades.
- Não procuro verdades. Eu quero me ver, só isso.
- Agora percebi a coerência. Você se prende às mentiras publicitárias, imaginando o que lhe dizem ser parte de si. E outro lá que é maluco.
- E eu disse que não sou? E ainda mais: você que trouxe mentiras para o meio da conversa!
- Se insistir mais um pouco, acabo por me acostumar com o seu complicado "não dizer que é". Salve-se quem puder.



[j. guedes]

sexta-feira, 29 de abril de 2011

*

Vultoso véu diluviano
que verte do céu!

Deflui o fôlego aflito
de quem lá fora fica,
enquanto, nas alcovas,
se salvam as almas com salmos
somados ao medo da partida.

[j. guedes]

quarta-feira, 13 de abril de 2011

batismo de capoeira

Rasteira de mestre é navalhada!

O gingador que se atreve
Já sabe que, em breve,
Ficará no chão

A perna que gira amolada
Com mira certeira
Cumpre a previsão

Se volta em gingado pra roda
Recebe outra poda
E depois pede a mão

Levanta-se com humildade o gingador
Mesurando a corda
Que rege a lição

E ganha o apodo
Que integra sua identidade
E sua vocação

D’acolá berimbau tocou
Pernada afiada no espaço ventou
No golpe que deu, fez que foi, mas voltou:
Calundu de quem vacilou!

[João Guedes]

terça-feira, 5 de abril de 2011

Lanço no ar palavras
Carregadas de emoção,
Leves para o vento
Que as leva a contento
Num lúdico balão,
A resvalar no coração:
Longe destinatário,
Mas, atilhado pela intenção
De jungi-lo ao meu ser-tão
Solit(er)ário.

[j. guedes]

segunda-feira, 21 de março de 2011

retomadas

Penso; logo, desisto.
Desavenço; logo, malquisto.
Tenso; logo, ansiolítico.
Imenso; logo, visto.
Censo; logo, estatístico.
Propenso; logo, invisto.
Venço; logo, conquisto.

[j. guedes]

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

regente surpresa

Ergo expectativas
Ao que pude escolher
E o fiar das horas
Range agora sem cessar

Com sorriso sincero
Aproximo horizontes
Abandono trincheiras
Ocupo o reino que quero

Protagonizo cuidados
Ganho do bem mais espaço
Também sei do mal que faço
Pela pressa da vaidade

Sem intervalo meu faro sente
Das possibilidades o traçado
Enquanto o rangido das horas
Com força autônoma tece
O espasmo da ausência
Que atrai minha aterrissagem.

[j. guedes]

domingo, 15 de agosto de 2010

próxima estação

Flameja na barra distante
o sonho que meus pés já pisaram
com a nudez das solas tenras,
deixando na trilha ruiva
o gosto da volta,
a solidez da raiz ganhando o entorno do tórax
e o sopro do vento
volvendo a carga de galardões
por me aproximar do que sempre fui
com a água, o sal e todos os reveses e ditas
que me compuseram nas primeiras manhãs
fora do ventre materno.

[j. guedes]