O silêncio tem a função de esmerilar as palavras,
Aguçá-las; deixá-las límpidas,
Estremes de ruídos e
incrivelmente pontiagudas,
Aguardando a melhor oportunidade
Para nos inocular
A embriaguez de seus significados...
[j. guedes]
Este postadouro visa a se tornar um vergel de textos sobre impressões da realidade e viagens introspectivas com destino ao reconhecimento da interação do ser com o pensamento,além de exercitar a estética sensorial através de versos. As críticas e suplementos dos leitores são importantes para fertilizar o que se está "versemeando". Enfim, insta-se traduzir sensações para a linguagem textual.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
seguindo em frente
Um breve prelúdio ao poema seguinte: outrora, lá nas lerranias de minha adolescência, a mensagem da canção "tente outra vez", de Raul Seixas, sobreveio-me como um tremendo realento, que me senti impendido a retransmiti-la, em outra combinação de versos, com a mais providencial intenção de enfatizar a importância dos possíveis reveses que enfrentamos ao longo do percurso da vida como uma forma valiosa de aprendizado. E assim ficou:
SEGUINDO EM FRENTE
Não me quero prostrado erroneamente
Vou me erguer da queda acontecida
Sacudir a poeira e seguir em frente
Contornando a batalha perdida
Moléstia alguma deve continuar
Impondo o medo como estropício
Vale sempre correr algum risco
E, então, um mundo novo a começar
Que posso ver do futuro?
Talvez eu não consiga enxergar
Está tão longe e tão escuro
Querer saber não vai adiantar
Num horizonte farto de imprevistos
Veleja em minhas idéias um barquinho
Sempre atento às barreiras e riscos
Que podem naufragá-lo no caminho
Que posso ver do futuro?
Talvez eu não consiga enxergar
Está tão longe e tão escuro
Querer saber não vai adiantar
Inevitáveis ao que sempre desejamos
São as derrotas que, não poucas, enfrentamos
A queda dói, mas, com esforço, levantamos
Pois, glória é sempre poder continuar.
[j. Guedes]
quarta-feira, 21 de maio de 2008
flor da dor
Onde a água é só pedido
E a fé mais um castigo,
Como pedra carregada
P’ra cumprir obrigação,
Beira a morte assombrando
O gado, a terra, o roçado,
O menino achacado,
Filho daquele vaqueiro;
Em couro possuído,
Inteiramente escaveirado,
Salivando a enlutada,
Cuja passada leva vida,
Em troca da dor deixada:
Mais uma pedra pesada
No dorso pagão padecido
Que grunhe um choro abafado.
A lágrima transborda salgada
Dos olhos com perda sentida
E a dor empoça a latência
Da vida na terra escondida,
Medrando o botão de uma flor
Na cova daquela inocência:
Beldade que brota querida
À vida pela dor devolvida.
[j. guedes]
quinta-feira, 8 de maio de 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
SANGRAÇO
Já estou em prontidão
com as veias em fervura
o punhal na cintura
e o rifle na mão.
No peito, levo a valentia
na promessa, a salvação
vingança é minha valia
matança, a minha diversão.
A sanha é minha ternura
piedade é meu palavrão
a glória é a minha cura
o mal, a minha educação.
Acompanho o bando torvo
pelas sendas do sertão,
aterrorizando o povo,
despistando o pelotão.
Pilho perfumes e diamantes
prata, ouro e brilhantes
Em cada vila, uma amante
que deixo e sigo adiante.
Desmoralizo a justiça
que se estertora no chão
feito um lote de carniça
a feder, na renegação.
No cangaço a pedra geme
todo firmamento treme
com a tropelia do bando
que já chega anunciando
a morte, o medo, a maldição!
[j. guedes]
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