quinta-feira, 5 de maio de 2011

o que você quer dizer com isso?

- Pois, Ele decidiu se casar.
- Ele é maluco!
- Por que diz isso? Você também não é casado?
- E eu disse que não sou?
- O quê? Casado?
- Não; maluco.
- Espere um pouco. Preciso entender o teor espirituoso de sua colocação. Bem, então você é casado e não é maluco, mas Ele pode ser julgado maluco por decidir se casar.
- E eu disse que não sou? Foi exatamente isso que lhe perguntei antes; não lhe disse que eu era maluco por ter casado.
- Mas a entonação que você empregou fez insinuar sobre o seu casamento.
- Engano seu. Aliás, era você que falava de casamento. Eu falava de maluquice.
- Sim, maluquice de quem casa.
- A conjugação de casamento com maluquice foi por sua conta. Você falava do casamento, enquanto eu falava Dele.
- Já me predisponho a desistir de entender tudo isso. Por favor, ligue a TV.
- Olha, que agradável! Bem no horário do programa que gosto!
- Prefiro outro canal, onde passam mentiras mais interessantes que essa.
- Trocar uma mentira por outra em nada muda. Aliás, mentira tem um efeito só. Acho desastroso demais dar importância a uma mentira que não seja de si próprio.
- Então, por que tanta euforia para dizer que gosta desse programa?
- Por causa dos intervalos. Tenho o perfil concreto de público-alvo das publicidades.
- E o mercado anda muito preocupado com verdades.
- Não procuro verdades. Eu quero me ver, só isso.
- Agora percebi a coerência. Você se prende às mentiras publicitárias, imaginando o que lhe dizem ser parte de si. E outro lá que é maluco.
- E eu disse que não sou? E ainda mais: você que trouxe mentiras para o meio da conversa!
- Se insistir mais um pouco, acabo por me acostumar com o seu complicado "não dizer que é". Salve-se quem puder.



[j. guedes]